Ex-chanceleres veem iniciativa do americano, que vem ao País antes de Dilma visitá-lo, como sinal de mudança no diálogo bilateral.
É um bom recomeço, depois das confusões do apoio brasileiro ao Irã. E um recomeço com uma simbologia forte, pelo fato - bastante incomum - de que o presidente americano Barack Obama se dispôs a vir ao Brasil antes que a presidente Dilma Rousseff o visitasse em Washington. São esses os pontos de destaque na passagem de Obama pelo País, na avaliação de dois ex-chanceleres brasileiros, Luiz Felipe Lampreia e Celso Lafer.
"Obama vir primeiro é uma raridade. Ele manda, com esse gesto, um sinal de disposição para a mudança, assim como a presidente Dilma Rousseff já tinha feito ao mudar a postura brasileira a respeito dos direitos humanos no Irã", afirma Lampreia, que comandou o Itamaraty no governo FHC, entre 1995 e 2001.
Para Lafer, que foi chanceler por duas vezes também durante o governo Fernando Henrique, em 1992 e 2002, há um recomeço porque não se trata mais da diplomacia pessoal que, nos últimos oito anos, se tornou um estilo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ela é mais institucionalizada, mostrou disposição para uma maior afinidade", adverte o ex-chanceler. Acabou a fase do que ele chama de "diplomacia de combate", mais ideológica. com forte influência do assessor de Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. "A diplomacia de Dilma será outra. Vai ser a defesa dos interesses brasileiros, mas sem se colocar uma posição ideológica", resume Lafer.
Se as simbologias políticas são um bom prenúncio, Lampreia não descarta as discussões na área da economia. O pano de fundo do encontro deste sábado, 19, em Brasília são dificuldades financeiras sérias dos dois países, cada um por suas razões. No caso brasileiro, Dilma está adiando a decisão sobre a compra dos novos caças, para segurar o orçamento - assunto em que os EUA, com o modelo F-18, têm grande interesse.
As conversas dos dois talvez incluam, segundo Lampreia, o anúncio de um grande financiamento, coisa de US$ 1 bilhão, para a compra de tecnologia na área do pré-sal. Também pode haver avanços na pesquisa de biocombustível. "Há um projeto para o chamado clean sky, céu limpo, que está sendo desenvolvido pelos dois países, para se chegar a um tipo especial de querosene menos poluente", acrescenta.
Fonte: O Estadão
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