Petista que recebeu 375 votos diz ter orgulho da 'aliança'; aliados avaliam que será preciso mapear focos de insatisfação na base
A eleição do deputado Marco Maia (PT-RS) para a presidência da Câmara, na noite desta terça-feira, 1º, deu uma vitória para a presidente Dilma Rousseff ao mesmo tempo em que acendeu uma luz amarela na relação com a base. A operação montada pelo governo para eleger Maia não conseguiu evitar que o deputado Sandro Mabel (PR-GO) mantivesse sua candidatura e obtivesse mais de cem votos na disputa. O placar registrou 375 votos para Maia, 106 votos para Mabel, 16 votos para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) e 9 para o candidato Jair Bolsonaro (PP-RJ). Foram 3 votos em branco.
"Não há razão para essa quantidade de votos. São questões indecifráveis", afirmou um influente petista. O ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, amenizou. "Mabel é um deputado da base aliada e tinha uma proposta mais ampla do que só representar alguma insatisfação", observou.
Aliados de Dilma avaliam que será necessário identificar as insatisfações dos deputados para evitar surpresas futuras. Mesmo com a vitória tranquila de Maia em primeiro turno, setores da base manifestaram no início dos trabalhos legislativos sinais de parcial infidelidade.
O governo esperava uma votação maciça no candidato oficial, principalmente, por ele ter a seu lado diversas condições favoráveis - a força da presidente em início de mandato, o apoio formal de 21 dos 22 partidos com representação na Casa, incluindo a oposição, e a "obediência" dos deputados novatos.
Ao contrário, Mabel não teve sustentação nem de seu próprio partido. Ele entrou na campanha na metade do mês passado, resistiu às pressões do governo e está ameaçado de ser expulso da legenda por ter mantido sua candidatura mesmo depois de desautorizado pela direção do PR.
Expulsão. O líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), anunciou um prazo até as 10 horas desta quarta-feira, 2, para Mabel pedir desfiliação do partido. Caso contrário, a Executiva deverá abrir um processo disciplinar para a expulsão do parlamentar, ex-líder do partido na Câmara.
Mabel lançou seu nome na esteira da insatisfação de deputados da base, principalmente com a falta de compromisso do Palácio do Planalto com a liberação do dinheiro das emendas feitas pelos parlamentares ao Orçamento da União e com a distribuição de cargos no Executivo.
O deputado fez uma campanha praticamente solitária e de certa forma silenciosa, sem declarações públicas de apoio. Ele apostou na traição permitida pelo voto secreto.
Durante todo o dia, petistas e principais aliados de Dilma consideravam que seria uma derrota caso Mabel conseguisse chegar a 100 votos.
O número de votos dos outros dois candidatos era previsível. O PSOL lançou o deputado Chico Alencar para se contrapor às candidaturas dos dois governistas e marcar posição na defesa da soberania, autonomia, transparência e ética para a Casa.
"Nossa proposta para a Câmara não é corporativista, não queremos construir prédio de gabinetes. Queremos aprovar o fim do trabalho escravo, o fim do voto secreto no Parlamento. Queremos a destinação de 10% do Produto Interno Bruto para a educação e temos propostas de transparência e de ética para a Câmara", afirmou o líder do PSOL, deputado Ivan Valente (SP).
O partido tem apenas três deputados e uma atuação diferenciada na Câmara. Foi o único dos 22 partidos que não se juntou em bloco parlamentar para buscar mais espaço.
Fonte: Denise Madueño e Eduardo Bresciani/O Estado de S.Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário