O "Jornal do Brasil", um dos mais antigos do país, que teve a sua primeira edição impressa em 1891, vai deixar de circular. A data para o fim da versão em papel será decidida entre quarta e quinta-feira, segundo informou o empresário Nelson Tanure, dono da marca, nesta segunda-feira. Com dívidas estimadas em R$ 100 milhões e vendo a circulação despencar, Tanure tentou encontrar um comprador para o jornal. Sem sucesso na sua empreitada, decidiu manter o jornal só na internet.
- A decisão de acabar com o papel está sendo tomada esta semana. Teremos uma decisão na quarta-feira ou na quinta-feira. Provavelmente, seremos o primeiro jornal a estar apenas na internet. É algo que está acontecendo no mundo todo - disse Nelson Tanure.
Nesta segunda, Tanure confirmou a saída de Pedro Grossi, que ocupava a presidência do "JB" há apenas quatro meses:
- Eu demiti o Pedro Grossi porque ele era a favor de continuar no papel - disse.
Em carta a editores e diretores do "JB", e reproduzida no site "Janela Publicitária", Grossi diz que "Em almoço realizado hoje (segunda-feira), na presença do Dr. Ronaldo Carvalho e da Dra. Angela Moreira, o Dr. Nelson Tanure informou que publicará na edição de amanhã (terça-feira) do Jornal do Brasil (JB) uma notificação assinada pela direção da empresa e dirigida aos leitores na qual explica a transposição do jornal escrito para o tecnológico. Considerando que isto contraria a razão pela qual fui contratado, solicito, sem perda de meus direitos, que o expediente do jornal e de todas as revistas não conste mais meu nome".
Procurado pelo GLOBO, Grossi, no entanto, diz que só deixará o cargo de diretor-presidente do "JB" assim que a empresa anunciar o fim da publicação impressa.
- Enquanto tiver jornal impresso, eu continuo presidente. Quando for comunicada a transposição do papel para a internet, eu estou fora. Não fui contratado para isso - afirmou Grossi.
Para ANJ, caso é isolado e circulação crescerá no país
Segundo a sua assessoria de imprensa, o "Jornal do Brasil" conta com 180 funcionários, sendo 60 jornalistas, que trabalham na redação. O "JB" tem hoje tiragem de 17 mil exemplares nos dias de semana e de 22 mil aos domingos.
Na redação do jornal, o clima é de tristeza e nervosismo. Nesta segunda-feira, dois funcionários passaram mal e voltaram para casa. Até agora só foram depositados R$ 800 na conta dos empregados referentes ao mês trabalhado em junho. Ainda não houve comunicado formal sobre o destino do jornal. O diário é editado na Casa Brasil e em seu prédio anexo, no Rio Comprido. Segundo funcionários, a Casa Brasil, onde ficavam os executivos da empresa, será devolvida. A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, Suzana Blass, disse que pedirá audiência com Tanure para discutir o futuro dos empregados:
- Queremos garantir uma empregabilidade mínima e o pagamentos da rescisão.
Diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, lamentou o fim da versão impressa do "JB", mas fez questão de frisar que este é um caso isolado e que aposta no crescimento da circulação dos jornais no país este ano:
- É lamentável que o JB termine. Foi um processo de equívocos empresariais que resultaram em decadência editorial.
Em 2009, a circulação diária de jornais pagos no país foi de 8,193 milhões, recuo de 3,46% em relação a 2008, quando a circulação crescera 5%. Os números incluem a tiragem do "JB", apesar de o jornal ter deixado a associação em 2004. A ANJ não fornece dados específicos sobre qualquer jornal.
Segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), no primeiro quadrimestre deste ano, o setor já registrou um crescimento de 1,5%. Desde setembro de 2008, o "JB" não era mais auditado pelo IVC.
O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, também lamenta o processo de decadência do jornal.
- É uma notícia triste e mostra o momento nocivo por que passa o mercado jornalístico - diz ele.
Azêdo lembra que o "JB" era um paradigma para coberturas importantes e recorda edições memoráveis, como a de 13 de dezembro de 1968, data do Ato Institucional Número 5 (AI-5), que acabou com garantias constitucionais e deu ao presidente da República poder de fechar o Congresso. Naquele dia, o "JB" publicou a previsão do tempo na primeira página, dizendo que as condições climáticas eram adversas.
Nelson Tanure arrendou o "JB" em 2001. Entre 2002 e 2003, o empresário teve os direitos de publicação da revista americana especializada em economia "Forbes" no Brasil. Em 2003, arrendou o diário econômico "Gazeta Mercantil". Em grave crise e com dívida trabalhista superior a R$ 200 milhões, Tanure rescindiu o contrato de licenciamento do uso da marca e devolveu o jornal a seu antigo dono Luiz Fernando Levy. Em junho de 2009, a "Gazeta" deixou de circular.
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